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Notícia
Juros atingem 9%, mas dólar ameaça inflação
A tendência, acreditam eles, é de a Selic subir para um nível entre 9,5% e 10% ao ano.
BC segue o roteiro traçado por especialistas e eleva a taxa básica em mais 0,5 ponto percentual. Foi a quarta alta seguida. Com o custo de vida pressionado pela disparada da moeda norte-americana, as apostas são de que a Selic avance para um patamar entre 9,5% e 10%
Na tentativa de corrigir os erros que levaram à disparada da inflação que atormenta os brasileiros, o Comitê de Política Econômica (Copom) do Banco Central aumentou ontem, pela quarta vez seguida, a taxa básica de juros (Selic) em 0,5 ponto percentual, para 9% ao ano. O ajuste, no entanto, terá de continuar nos próximos meses, diante da disparada dos preços do dólar, que já contaminaram as tabelas de preços da indústria e do comércio. Na avaliação de André Esteves e Pérsio Arida, sócios do Banco BTG Pactual, o BC está fazendo bem o dever de casa. A tendência, acreditam eles, é de a Selic subir para um nível entre 9,5% e 10% ao ano.
Na prática, a elevação da taxa básica significa o encarecimento do crédito para consumidores e empresas, o que ajudará a reduzir o consumo e, por tabela, conter o repasse da alta do dólar para a inflação, que, neste ano, em nenhum momento, ficou abaixo de 6% no acumulado de 12 meses. Apesar de ser contrária ao arrocho monetário, a presidente Dilma Rousseff deu aval ao BC para que leve a Selic ao patamar necessário a fim de retomar a confiança dos agentes econômicos. A alta do custo de vida afetou o orçamento das famílias e a previsibilidade do setor produtivo, ajudando a derrubar ainda mais o já frágil crescimento do Produto Interno Bruto (PIB).
Ninguém espera uma mudança radical no quadro de desconfiança que tomou conta do país. Mas a diretoria do BC está convencida de que é possível reverter o mau humor dos investidores ao longo dos próximos meses, caso o governo dê mostras mais consistentes de compromisso de um ajuste fiscal transparente. Ao anunciar ontem a elevação da Selic, o Copom alertou, em comunicado, que a medida “contribuirá para colocar a inflação em declínio e assegurar que essa tendência persista no próximo ano”. A decisão, tomada por unanimidade, forçou mudança na remuneração da caderneta de poupança.
Segundo Arida, a alta dos juros não está restrita ao Brasil. Todos os países emergentes estão seguindo nessa direção, para evitar a fuga de recursos para os Estados Unidos, devido ao fim dos estímulos dados pelo Federal Reserve (Fed), o BC norte-americano, à maior economia do planeta. Ele destacou que, na semana passada, a Turquia aumentou a taxa básica em 0,5 ponto, e a Indonésia deve ser a próxima.
Desde abril, a Selic já subiu de 7,25%, o menor patamar da história, para 9%. Com isso, o Brasil galgou uma posição no ranking dos países com os maiores juros reais do mundo. Por esse parâmetro, são levadas em conta não só as taxas básicas como também a inflação de cada país. Até ontem, o Brasil era o quarto colocado numa lista que tinha a China, o Chile e a Argentina como os líderes. Agora, o país ultrapassará os argentinos, conforme cálculos do economista Jason Vieira, diretor da MoneYou.
Até o fim do ano, porém, o Brasil escalará novas posições no ranking dos campeões dos juros altos, a julgar pelas estimativas das taxas dos mercados futuros, de pelo menos mais uma alta de 0,5 ponto em outubro, de 0,25 ponto em novembro e de 0,25 ponto em janeiro de 2014, chegando a 10% ao ano e enterrando de vez a bandeira do governo Dilma, de ter levado os juros básicos ao menor patamar da história. Para analistas, foi justamente por ter encampado esse propósito, estimulando o consumo e o endividamento das famílias, que o BC passou a colecionar problemas para colocar freio na disparada dos preços.
PT em alerta
A oferta de crédito barato proveniente, principalmente, dos bancos públicos e os fartos incentivos tributários para bombar a demanda resultaram na perigosa combinação de crescimento baixo e inflação alta, situação que levou o Fundo Monetário Internacional (FMI) a recomendar que o BC brasileiro desse prosseguimento à elevação dos juros, independentemente dos efeitos malignos dessa política sobre o PIB.
Para analistas, está claro que o BC terá de sacrificar o crescimento econômico, principalmente de 2014, quando a presidente Dilma Rousseff tentará a reeleição ao Planalto, se realmente quiser botar a inflação nos eixos. “O Banco Central tem expressado que quer ver a inflação caindo neste ano e no próximo. A decisão de apertar a política monetária (subir juros) tem justamente esse objetivo, de buscar um crescimento mais fraco”, disse o economista-chefe do Banco Santander, Maurício Molan. “Obviamente, em um ano eleitoral, essa política não cria um ambiente favorável para o partido da presidente”, acrescentou.
Na avaliação de Molan, o BC poderá manter o aperto dos juros no ano que vem, dependendo do ritmo de valorização do dólar ante o real. Mesmo tendo anunciado um pacote de vendas diárias de moeda norte-americana de US$ 60 bilhões até o fim de 2013, a autoridade monetária ainda tem enfrentado dificuldades para trazer a cotação da divisa para baixo.
Empresários criticam
Empresários e trabalhadores não esconderam a decepção com a esperada alta dos juros para 9% ao ano. “A economia brasileira está parando e, com essa medida, o BC pode precipitar uma recessão, gerando desemprego e redução de renda”, disse o presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf. A Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) criticou o que chamou de “rentismo” do BC em ceder ao “terrorismo do mercado financeiro e dos especuladores”.